Dez anos depois, A Cartilha está de volta.

01/04/2010

Manipulação Da Esquerda ou Jornaleiros Burros? Ou Ambas as Coisas

Gabriel Silva (Blasfémias) comentando notícia de hoje do Público:

«Mesmo assim,[Berlusconi] foi punido, através da abstenção, que terá sobretudo tocado os seus eleitores “desafectos”, segundo as primeiras hipóteses avançados por politólogos.»

Tradução: Mesmo assim, Berlusconi foi o grande beneficiado pela crescimento da abstenção, significando que parte do eleitorado não se reviu na alternativa nos partidos da esquerda, conseguindo a coligação do primeiro-ministro italiano consolidar posições e conquistar duas regiões às forças de esquerda, quando o pm tinha apontado o objectivo de vencer em apenas mais uma.

«Berlusconi terá falhado a sua dramatização e o comportamento eleitoral estará também a mudar.»

Tradução: Berlusconi obtêm uma vitória, apesar de todas as polémicas, sendo que a esquerda falhou ao não conseguir mobilizar o seu eleitorado. O comportamento eleitoral estará também a mudar.

«Com um discurso que já não é apenas xenófobo nem meramente anti-Sul, mas defensor do tecido produtivo, proteccionista e denunciador da globalização – como a exigência de limitar as importações da China…..»

Tradução: Com um discurso que ora se aproxima das teses mais xenófobas, ora partilhando de teses que são comuns às forças da esquerda mais extremista, com eco nos tradicionais partidos comunistas e em novas formações politicas que tem vindo a surgir em toda a Europa como o Bloco de Esquerda ou o Nouveu Parti Anticapitaliste francês, defensor do tecido produtivo ….»


E comentário de João Caetano Dias(Blasfémias) a notícia de ontem do Público:

“A maior abstenção dos últimos 15 anos e uma forte subida da Liga Norte – o partido xenófobo aliado de Silvio Berlusconi poderá, pela primeira vez, governar duas regiões. Estes são os dados mais marcantes das eleições regionais em Itália, a que o primei- ro-ministro sobreviveu, ao conseguir arrebatar pelo menos duas das onze regiões que a esquerda governava.”

O adjectivo foi logo colocado num partido – ‘xenófobo’, mas em nenhuma situação se vê um adjectivo equivalente colocado num dos partidos radicais de esquerda. Depois sugere-se a derrota de Berlusconi:

“Este não era o resultado que Il Cavaliere ambicionava no início do ano, quando regressou ao trabalho com a taxa de aprovação em alta após ter sido agredido, em Milão, por um homem com perturbações mentais.”

Depois explica-se a razão:

"Segundo as últimas projecções (a contagem avançava ontem a um ritmo lento), o centro-esquerda reconquistou a presidência em sete das 13 regiões que foram a votos, incluindo os bastiões da Emília-Romana (Norte) e Toscânia (Centro). Mas perdeu a Calábria e Campânia, duas das mais importantes regiões do depauperado Sul, para o Povo da Liberdade (PdL, de Berlusconi). O veredicto final estava, por isso, dependente dos resultados na Lázio, a região da capital e que era o prémio mais ambicionado pela direita. As últimas projecções davam à candidata da direita, Renata Polverini, ligeira vantagem sobre a ex-eurodeputada Emma Bonino, apesar de o PdL ter visto uma das suas listas recusada por ter sido entregue fora de prazo (ex- clusão que nem um decreto aprovado à última pelo Governo anulou)."

O imbróglio judicial que se seguiu terá sido decisivo para o desinteresse dos eleitores: «a taxa de participação ficou nos 64,2 por cento (menos oito pontos do que em 2005 e inferior à registada nas europeias) e na Lázio foi ainda menor (menos 12 pontos do que nas últimas regionais), mas a esquerda não conseguiu capitalizar o descontentamento.»

A culpa foi do imbróglio…

Termina-se com wishful thinking:

“Mas se o crescimento dos aliados do Norte permitiu a Berlusconi ultrapassar o último teste eleitoral antes das legislativas (previstas para 2013), poderá ser elevado o preço a pagar: Bossi já fez saber que pretende mais pastas no actual Governo (detém já três ministérios) e não esconde as suas ambições à Câmara de Milão, na posse do PdL. Exigências que poderão abalar a coligação de direita, numa altura em que Gianfranco Fini, presidente da Câmara dos Deputados, se prepara para lançar o seu próprio movimento, no que poderá ser um primeiro passo para a ruptura definitiva com Berlusconi.”



[O jornaleiro que assinou a primeira peça chama-se Jorge Almeida Fernandes. A jornaleira que assina o segundo artigo chama-se Ana Fonseca Pereira.]

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