«Uma coisa que impressiona quem estuda os primeios séculos da monarquia portuguesa é o caracter essencialmente agricola dessa sociedade. Os cognomes dos reis, o Povoador, o Lavrador, já por si são altamente significativos. As armadas, que mais tarde dominavam os mares, sairam das matas semeadas por D. Dinis. No reinado de D.Fernando era Portugal um dos países que mais exportavam. A Castela, a Galiza, a Flandres, a Alemanha forneciam-se quase exclusivamente de azeite português. No sécuo XX vinham os navios venezianos a Lisboa e aos portos do Algarve, trazendo as mercadorias do Oriente, e levando em troca cereais, peixe salgado e frutas secas. As classes populares desenvolviam-se pela abundância e o trabalho, a população crescia. No tempo de D. Jooão II chegara a população a muito perto de três milhões de habitantes...Basta comparar este algarismo com o da população em 1640, que escassamente excedia um milhão.
(...) com a depreciação relativa dos metais preciosos pela afluência dos tesouros do Oriente e América, os cereais chegam a preços fabulosos. Não só deixamos de exportar, mas passamos a importar: «do reinado de D. Manuel em diante», diz Alex. de Gusmão, «somos sustentados pelos estrangeiros». Esse sustento podiam-no pagar os grandes, que a Índia e o Brasíl enrequeciam. A multidão, porém, morria de fome. A miséria popular era grande. Não se fabrica, não se cria: basto o ouro do Oriente para pagar a indústia dos outros. Os nobres deixam os campos, os solares dos seus maiores, onde viviam em certa comunhão com o povo, e vêm para a corte brilhar, ostentar...e mendigar nobremente. Do luxo desenfreado, ao vício, à corrupção. mal dista um passo.»
Antero de Quental, Causas da decadência dos povos peninsulares, 1871.
Hoje não temos Brasil nem Índia que nos tragam riquezas, mas este Portugal 4.0 de III República, habituou-se a viver dos dinheiros estrangeiros. Primeiro do FMI, agora de Bruxelas, no futuro de empréstimos. Desmantelou-se o seu tecido industrial e agricola, aquele que produzia e que hoje escasseia no país. A degradação social e psicológica, a corrupção, o desemprego, a resignação, são já processos em curso. Se não se inverter o rumo, o caminho de 1580 estará traçado. Para mal menor das gentes, como nessa época.
10/11/2009
Sempre Bom Reler
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