Dez anos depois, A Cartilha está de volta.

15/02/2006

Bomba Relógio

"Dois terços das escolas públicas têm alunos com origens estrangeiras

Os crioulos de Cabo Verde, da Guiné-Bissau ou de S. Tomé e Príncipe dominam as conversas no recreio da Escola Preparatória da Damaia. Também se fala russo, ucraniano, moldavo, chinês, quimbundo (Angola), romani (ciganos) e inglês, este último por ser universal. O que aqui se vê e ouve é uma autêntica babel, cujo denominador comum é a aprendizagem da língua portuguesa. Actualmente, 67% das escolas nacionais, do básico ao secundário, já têm estudantes cuja língua materna não é o português.

Na Escola Preparatória Pedro d'Orey da Cunha, paredes meias com a Cova da Moura, na Damaia, a maioria dos alunos são oriundos dos PALOP. No total, são 62% dos 500 inscritos, e é impossível impedir que falem crioulo nos recreios, embora tal seja exigido no regulamento. "Deve-se valorizar a cultura e a língua do aluno, mas têm que falar português para que haja integração", justifica António Gamboa, presidente do Conselho Executivo.

O estabelecimento é um exemplo do que foi a primeira vaga de imigrantes dos PALOP. Por isso, não admira que continuem a ser maioritários na população estudantil do sistema público português. Mas a tendência está a inverter-se, como demonstra um inquérito do Instituto de Estudos Sociais e Económicos, "Situação Escolar dos Alunos Cuja Língua Materna não É o Português", no ano lectivo 2004/2005, feito a pedido do Ministério da Educação.

80% dos alunos que não têm o português como primeira língua nasceram fora de Portugal. Angola é o país de onde vieram mais alunos (13,4%), seguindo-se Brasil e Ucrânia, com 9,6% cada. Surge depois um conjunto de "jovens pertencentes a uma segunda geração de emigrantes, nascidos em França, Suíça, Alemanha, Canadá e África do Sul, assim como um grupo relevante que provém da Europa do Leste, como a Ucrânia, a Moldávia e a Roménia". Entre os 20% que nasceram em Portugal, cerca de 30% têm ascendência de Cabo Verde, 15% de Angola e 11% da Guiné-Bissau. E cada vez há mais estudantes com pais asiáticos.

Os de Leste e chineses são os que mais ganham com as aulas de apoio de português da escola da Damaia, dadas por uma professora do ensino básico destacada para esse efeito. É o caso do Daniel Creange, recém- -chegado da Moldávia e que está no 5.º ano. Um mês e meio de estudo que já dá para perceber o essencial, desde que as pessoas falem devagar. Falar é mais difícil, o que não o impede de conviver com todos os colegas. Mas estes também facilitam. Estão habituados a ouvir outras línguas e a comunicar sem ser em português. "Esta é uma vantagem da escola. Quando abriu, há 20 anos, havia problemas de racismo. Isso acabou", garante António Gamboa."

in <http://dn.sapo.pt/2006/02/13/sociedade/dois_tercos_ escolas_publicas_alunos_.html>

Sem comentários: