«Em Setembro, quando o regime o convidou a eleger, ninguém lhe disse que o défice era de 9,3% e que seria preciso cortá-lo à sua custa. Deconhecia, quando votou em Sócrates, que estava a votar contra os seus benefícios fiscais (isso não era o Louçã?). Mas vamos a ver, caro leitor. Foi esta a primeira vez? não me parece.
Lembra-se das eleições de 2005? Conhecia, então, o valor do défice? Não conhecia. Sabia que escolher Sócrates era escolher o agravamento do IVA e a diminuição das pensões? Não sabia. Nessa época, Sócrates prometia curar o país com uma aspirina chamada "choque tecnológico". Mas foi só ele que o iludiu? A alternativa, em 2005, era o inexplicável Santana Lopes, que já anunciava o fim de todos os "sacrifícios".
Pensando bem, quando foi a última vez, caro leitor, que votou sabendo no que estava a votar? Em 1999, o país quase proporconou uma maioria absoluta ao engenheiro Guterres, que até ao fim sempre lhe jurou que "conseguimos garantir o cumprimento do défice" (entrevista à Visão em Fevereiro de 2001). Conforme se soube mais tarde, o défice chegou aos 4,3%. Em 2002, a escolha foi entre Durão Barroso, que se propunha baixar impostos, e Ferro Rodrigues, que se preparava para aumentar a despesa ("social"). Semanas depois, apareceram todos de tanga. O facto é este: temos tido eleições livres, mas não temos tido eleições de verdade, porque desde há 15 anos que nos pedem para optar entre cenários de fantasia.
Agora, talvez o leitor esperasse, conforme as rábulas em vigor, ver-me rogar pragas aos políticos. Em vez disso, faço-lhe uma pergunta: os políticos mentem-lhe porque são mentirosos, ou porque sentem que o leitor não quer ouvir a verdade? Pode-se ser enganado uma vez. É uma infelicidade. Mas quatro vezes? começa a parecer opção. Ferreira Leite insiste que, o ano passado, até disse tudo o que havia para dizer. Ouviu-a? Entre 1997 e 2001, tivemos Cavaco Silva, em artigos e entrevistas, a explicar-nos que em Portugal já só a despesa do Estado e a dívida externa cresciam. Leu-o?
A questão, caro leitor, é que a verdade custa.»
Rui Ramos, Expresso, 13-III-010
16/03/2010
Por Detrás de Maus Polítcos Estão Maus Eleitores
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário