Dez anos depois, A Cartilha está de volta.

09/03/2009

Estado de Sítio

"O ainda chamado Partido Socialista completou ontem o espectáculo iniciado há uma semana em Espinho com a eleição da Comissão Política e do Secretariado Nacional. Como se esperava, o órgão máximo é completamente dominado por fiéis do grande líder. O partido do Largo do Rato, que o secretário-geral diz ser de esquerda, moderado, democrático e popular, sem que ninguém lhe pergunte o que é que tudo isto quer dizer, instalou-se no Estado e nos negócios de uma forma invulgar nesta democracia com 34 anos.

Tudo gira à volta do grande líder, que não se engana e manifestamente não tem quaisquer dúvidas sobre o que anda a fazer neste sítio cada vez mais pobre, muito manhoso, hipócrita quanto baste, deprimido e cada vez mais mal frequentado. As vozes críticas são excepções não só no partido do senhor engenheiro como na sociedade civil.

Os militantes procuram não desagradar ao chefe, que lhes dá lugares em tudo o que é administração pública e nas listas para as eleições que aí vêm, e os empresários gravitam à volta do senhor presidente do Conselho porque sabem que os negócios são todos decididos em São Bento, com ou sem concursos públicos, e quem desagradar ao chefe corre o risco de ficar fora da lista dos privilegiados. O grande líder não ouve ninguém, só ele tem ideias para resistir à crise, é o pai e a mãe dos indígenas, das famílias e das empresas.

O Partido Socialista assaltou o Estado de uma forma nunca vista e usa os dinheiros públicos para comprar apoios e castigar quem ousa pôr em causa o grande líder."


António Ribeiro Ferreira, jornalista, "Correio da Manhã", 09-03-2009

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