Dez anos depois, A Cartilha está de volta.

20/01/2009

Excesso de Democracia

"Diferentemente dos progressistas actuais, os progressistas do passado nunca fingiram não perceber que cada progresso da democracia - do autêntico poder do povo - dependia de um demos «participativo» interessado e informado sobre política. Portanto, de há um século para cá temos vindo a perguntar a nós próprios qual seria a causa do alto grau de desatenção e de ignorância do cidadão médio.

(...) é fácil de se perceber porque é que um crescimento geral do nível de instrução não comporta, por si só, um incremento específico de públicos informados acerca das coisas públicas. É o mesmo que dizer que a educação em geral não tem necessáriamente qualquer efeito arrastador sobre a educação política. Pelo contrário, e cada vez mais, a educação especializa e fecha-nos em competências específicas. Mesmo que tivéssemos, por hipótese, uma população toda ela de licenciados, não está provado que disso resultaria um incremento relevante da subpopulação interessada e especializada em política. Pois um químico, um médico, um engenheiro não têm uma competência política que os torna distinguíveis em relação a quem não tem. Dirão, em política, as mesmas banalidades ou asneiras que podem ser ditas por qualquer um.

A questão é que cada cada maximização de democracia, cada crescimento de directismo, requer que os informados aumentem e que, ao mesmo tempo, aumente a sua competência, o seu saber e o seu compreender.

(...)De outro modo, a democracia torna-se um sistema de governo onde quem decide são os mais incompetentes. Isto é, um sistema de governo suicida."



Giovanni Sartori, Homo Videns, 2000

Se na queda do Império Romano foi a cruz que derrubou a àguia, na civilização ocidental actual é o excesso de democracia a esganar e trucidar a àguia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Neste momento só vai para a politica quem não sabe fazer mais nada, quem escolheu para a vida o caminho mais facil da preguiça e laxismo de ter o cu sentado numa cadeira todo o dia.

Chegamos a um ponto da democracia Portuguesa em que o desencanto e desinteresse popular, aliado a uma profissão de politico, adequado a quem não sabe fazer mais nada e é interesseiro, queimou toda a credibilidade da politica enquanto mecanismo de regulação das sociedades, e afastou aquelas pessoas com real valor para fazer algo pelo país. Com os resultados que conhecemos.