Dez anos depois, A Cartilha está de volta.

04/05/2010

Jaime Nogueira Pinto Brilha na sua Despedida do i

Ninguém acreditava que, desaparecido Salazar, fosse possível manter um sistema autoritário na Europa ocidental, trinta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial.

A diferença estava no tempo e no modo da transição. Continuou a estar: com o golpe militar e a revolução esquerdista que se lhe seguiu veio o confronto entre dois conceitos de democracia - a democracia pluralista, liberal, à europeia, de parte do PS, do PSD e do CDS, e a democracia popular, à soviética, com algumas modalidades folclóricas, em função do paladar: maoista, albanesa, cubana. A diferença estava na forma de instaurar o socialismo, ou cortando mais cabeças ou pondo ênfase na reeducação da burguesia, ou socializando os pinhais ou condenando barbeiros e merceeiros como perigosos sabotadores económicos.
(...)
Nos caminhos para a descolonização houve a tal unidade, que na crise Palma Carlos, no Conselho de Estado, juntou o próprio professor Freitas do Amaral à esquerda. Na crise Spínola, no 28 de Setembro, houve nova unidade antifascista: os maus da fita passaram a ser os partidos à direita do CDS - o Liberal, o Cristão-Democrata, o Partido do Progresso, o MAP. Que foram fechados. E os seus dirigentes e militantes, "malfeitores associados", foram também fechados - na cadeia, donde alguns só sairiam depois do 25 de Novembro de 1975.

Quando chegou o 11 de Março e o caminho para o socialismo, já as barbas de muitos ardiam, até no PS, que mesmo assim aplaudiu as nacionalizações.

Depois foi o Verão Quente e o PC, o MFA e o "povo unido" uniram-se na marcha vertiginosa para o socialismo. Foram parados pelo outro povo, o povo da direita, também unido, do Minho a Rio Maior, que, através de formas superiores de luta, criou as condições para o governo Pinheiro de Azevedo e o 25 de Novembro. Decidido pelos Comandos e pela Força Aérea, o processo foi travado pela recuperação que o MFA de Melo Antunes fez dos comunistas, sacrificando a extrema-esquerda.
(...)
Assim ficámos com a descolonização e a democracia, a que fizemos e a que temos. E o desenvolvimento? Paciência, não se pode ter tudo.


Jaime Nogueira Pinto, Jornal i, 04-V-010

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